Os saltos altos disfarçam tudo. Finjo os sorrisos ao ritmo do ranger da porta. Na mala um cigarro apagado lembra-me que não existo. As olheiras foram cuidadosamente betuminadas. Para melhor conforto do espectador. E às vezes pergunto-me como seria se pudesse não sorrir ao ranger da porta. Ficar aqui sentada com o cigarro aceso a falar com a mala. Os pés descalços a apoiarem-se um ao outro e os olhos libertos do véu da civilidade.
Mas os saltos altos disfarçam tudo.
Até o rio de pensamentos que salta as margens espartilhadas deste banco de areia poluído onde jazemos o dia inteiro.
E inunda o ranger da porta.
E afoga o espectador.
E inunda o ranger da porta.
E afoga o espectador.
Nunca consigo betuminar as minhas olheiras convenientemente. Os olhos também não ajudam nada, tornam-se exasperantemente líquidos, resistente a toda a cosmética.
ResponderEliminarMáscaras nos pés que não deixam fugir...
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