Tinha mais de setenta e cinco anos, um agasalho dos tempos em que as lojas nesta rua ainda se chamavam modas qualquer coisa, as mangas e os colarinhos da camisa puída, um sorriso divertido e uma haste dos óculos presa por um arame. Ouvia mal e por isso todos ouvíamos a sua conversa ao telefone. Estava atrás de mim na fila do supermercado. Também via mal e perguntou-me quanto custava a embalagem das costeletas. Disse-lhe o preço e agradeceu-me mais satisfeito do que aliviado. Do outro lado do satélite, o outro não deu conta da interrupção e continuou a falar sozinho. Ele voltou a encostar o telefone ao ouvido e, sem esperar pelo contexto da conversa, enquanto olhava para a embalagem das costeletas, explicou:
-Crise? Isso para nós tanto nos dá. Sempre passámos por dificuldades e estamos habituados a viver mal. Temos que nos preocupar é com os jovens. Não sabem sofrer e ainda se matam... Ou dão em drogados.
Drogados ou drógados? É que faz toda a diferença.
ResponderEliminarEssa é que é essa!
ResponderEliminarvox populi
ResponderEliminarA escola da vida não tem licenciaturas, mas forma mestres