Contrariamente ao que acontece com as coisas que se me impõem, que integram uma errata maior que o livro, nunca me engano nas minhas escolhas. Foi essa segurança estatística que me fez continuar a acreditar na minha tripulação tão criteriosamente escolhida, mesmo quando parecia evidente que não havia nada que se pudesse fazer por esta gente para lhes despertar o instinto sanguinário que é essencial numa carreira de Pirata.
Finalmente, ou porque se aborreceram das férias náuticas, ou porque o rum lá lhes chegou ao sangue, decidiram-se a fazer jus à minha fé.
Esta manhã, quando desci para o pequeno almoço, estavam todos reunidos à volta da mesa, equipados com lenços, brincos, ganchos e sabres e comunicaram-me que estavam prontos para a ação.
Sem plano de ataque ainda definido, sugeri que fossemos atrás de um iate de espanhóis que nos irritaram numa marina de Kos e lhes roubássemos a embarcação.
Os bloggers rapidamente se lançaram numa discussão sobre a ética do ataque aos hispânicos, os poetas protestaram com Cervantes, os ex-presidiários tinham feitos amigos entre etarras durante a reclusão, Gualtiero votou contra com o pretexto de uma amante espanhola e foi quando eu já estava em vias de me conformar com mais um projeto de ação transformado em "vamos mas é antes fazer uma sunset party de margaritas" que os pescadores acolhidos a bordo tiveram uma ideia que nos projetará para o mundo da fama e da riqueza.
Vamos assaltar um petroleiro.
A esta hora tardia, o navio ainda fervilha de excitação. Estudam-se as rotas dos petroleiros mais apetecíveis, afiam-se os sabres comprados nas lojas dos trezentos, ensaiam-se saltos sobre o inimigo, afinam-se as bússolas dos devices, compram-se armas no ebay, desenham-se fatos para o ataque...
Assaltaremos um petroleiro.
Álvaro de Campos, esse chato, perguntou-me o que faríamos depois do ataque e onde guardaremos o petróleo, ou lá o que eles trazem dentro dos petroleiros.
Expliquei-lhe que não viemos para esta vida para nos preocuparmos com detalhes e que se insistir em chatear-nos com insignificâncias terei que o mandar amarrar no mastro.
De repente assaltou-me uma dúvida: no alto mar, a segurança estatística vem de uma distribuição de Poisson?
ResponderEliminarBoa noite, Cuca :)
Aaaara! claro.
EliminarEsperemos que os bucaneiros sejam bons estudiosos da actualidade... Já que ultimamente a aquisição de riqueza a bordo tem andado em maré negra, que o monstro de entranhas petrolíferas não dê pelo nome de Valdez. Que o rum corra pelas veias ! Bumbo!
ResponderEliminarNada nos deterá, nada falhará. Pode começar a gastar por conta.
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