Latitude 39 12' 26 N
Longitude 9 8' 4 E
Daqui de onde vos escrevo, sentada na chaise long philippe starck que mandei instalar na zona Sul do convés, vê-se a Sardenha.
Não escondo que quando há cerca de dez dias abandonámos uma famosa marina Algarvia para dar início a esta aventura, tinha em mente um programa mais agressivo. De acordo com os meus planos, por esta altura, já deveríamos ter abordado pelo menos três iates de luxo, feito reféns os proprietários e sido notícia de abertura de oito telejornais.
No entanto, depois de dois dias de navegação e alguns mojitos (sou suficientemente segura da minha condição de pirata para não me obrigar a beber rum em exclusividade) perdi a pressa de aterrorizar pessoas e tornar-me dona dos mares e anuí democraticamente à vontade da maioria da minha tripulação, que parece estar mais inclinada para o ócio de um cruzeiro de luxo do que para o afã da vida de pirata.
Até os ex presidiários, logo que entrámos em águas espanholas, perderam o seu ar agressivo e revoltado e saltaram dos camarotes para o convés armados com coloridos calções billabong e toalhinha na mão, deitando-se ao sol, cada um a ler o seu policial preferido.
De todos, o grupo dos bloguers convidados, é o que parece menos empenhado em entregar-se ao domínio dos mares. Depois de terem descoberto que apanhavam wireless free no cimo do mastro, é vê-los a fazer fila, de portátil e iPad debaixo do braço com a desculpa da necessidade de actualização dos blogues e moderação de comentários. Pior do que isto, são aqueles que andam pelo navio a fazer sessões fotográficas estranhíssimas, monopolizando os serviços de Andrihiminir, o cozinheiro pirata, que há mais de cinco dias não me serve o almoço a horas.
Penso que isto deve ser uma fase de habituação à vida dos mares e que daqui a uns dias a sua natureza sedenta de sangue e horror fará com que se fartem das férias e se decidam a atacar alguma coisa que não lagostas e sangria de champanhe.
Organizei um referendo sobre uma eventual curta estadia na Sardenha, esperançada que o não ganhasse e eu pudesse conciliar a reputação de capitã respeitadora dos princípios democráticos com a minha vontade de continuar a navegar. Os bloggers, mais uma vez os bloggers, fizeram campanha pelo sim e com argumentos tão desprezíveis como a necessidade de levar para casa recuerdos da Sardenha, conseguiram convencer o resto da tripulação a pernoitar aqui para comprar ímans para o frigorífico, postais com fotografias tiradas há mais de vinte anos e t-shirts a dizer i love Sardenha.
A única parte positiva deste acostamento na Sardenha é que mesmo sem assaltar ninguém, estamos fartos de ganhar dinheiro. Queria acreditar que as pessoas nos vêm entregar as notas que têm na carteira por a isso se sentirem coagidas perante a mera visão da nossa assustadora bandeira. Infelizmente, uma réstia de realismo, diz-me que, com toda a probabilidade, essa aparente rendição, se deve ao facto de, ao verem o nosso estranho grupo aportar armado de pernas de pau, chapéus, espadas, tapa olhos e lenços coloridos, nos confundirem com uma qualquer espécie de navio circense.
Em vez de Sardenha, li ao início que se via "o Saldanha".
ResponderEliminarA partir daí, a coisa tomou um rumou muito mais davidlynchiano do que poderia prever...
O meu surrealismo não é assim tão bom :)
EliminarÉ de pensar também em "Sardinha"... sardinhada com febras e coiratos a bordo dum barco à vela, qual o blogger que poderá resistir ao chamamento ?? ... Ar puro, paisagem, comida à borla ( uns garrafões de tinto também operariam maravilhas) e poder aparecer no "Sardenha News"....
ResponderEliminarDepois sempre pode entreter turistas ! Andar na pranca, 30€; Subir à Gávea ; 50€ ; enforcamento no Mastro 100€ sem direito a reembolso, etc.etc... vai ver que será um pré- empreendimento deveras lucrativo, antes da coisa ganhar os vedadeiros contornos.
*Prancha
EliminarCuidado com as sugestões. A menina está dentro deste navio, Lembra-se? Heyoy
EliminarOk, mas a minha costela lusitana, saudável mistura de fenícios, gregos e catagineses, adora sardinhas assadas com pimentos numa fatia de casqueiro saloio. Ho ho ho a pirate's life for me. Put me on a sardine diet !!!
ResponderEliminarEu, usurpadora-mor do cimo do mastro, me confesso e penitencio; mas foi por uma boa causa!
ResponderEliminarNa impossibilidade de proceder à manobra de butakow para descobrir e recolher a Mel (ninguém quis voltar atrás, quiseram seguir direitos à Sardenha) vi-me obrigada a não descolar da net e reunir assim reforços que me ajudassem a localizar a bicha e a trouxessem até mim!
As minhas desculpas...
O seu caso está justificado. Era uma situação de "cão ao mar". Código Óscar, se não me engano...
EliminarAinda assim, acho que devíamos organizar um giveaway de robalos e douradas escaladas, usar as velas para produzir uns outfits fashionistas, os cabos para fazer uns statement necklaces e sortear a subida ao mastro através do random.org!
ResponderEliminarArrrrrgggg.... estamos aqui para pilhar! pilhar!!!!
EliminarE não me faça falar no espaço que já ocupam as suas arcas carregadinhas de outfits Pirata!