Pensei como seria se me fartasse. Se pura e simplesmente tivesse um ataque de prima dona e me viesse embora. Voltando as costas aos papéis, aos prazos, às agendas e ao computador ainda ligado e às pessoas e aos seus problemas e desgraças e tragédias. E aquela imagem foi-se avolumando na minha mente e já não era uma imagem mas uma necessidade. E umas horas depois eu estava dentro do carro em direção a Lisboa e cada quilómetro de auto-estrada sabia ao alívio da fuga. E tive medo de me transformar numa daquelas personagens do Paul Auster e passar muitos anos a fugir sem parar. A renovar a promessa de voltar para trás na próxima saída e nunca o chegar a fazer. Como quem adia por cinco minutos o despertador durante todo o dia até o dia ter passado e já não ser preciso adiar mais o despertador por já se poder dormir outra vez. E um par de horas depois estava na ponte sobre o Tejo e já não valia a pena continuar a desligar o despertador.
Cheguei à outra casa, à verdadeira casa, e adormeci dois minutos depois de a porta se ter fechado nas minhas costas.
E dormi e dormi e dormi e dormi.
E fugi e não aconteceu quase nada.
Só o medo de um dia não conseguir voltar que é próprio dos que já sabem que são capazes de fugir.
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