As pessoas que têm poucos
sentimentos apegam-se aos sentimentos que têm com a fúria do sedento no deserto
que não está disposto a deixar que lhe roubem a última porção de água. A
escassez no sentir faz com que o sentimento se autonomize do seu objeto fundamento
e ganhe um valor em si próprio. Nessa altura, o objeto perde toda a relevância
porque a única coisa que interessa é o sentimento de que é pretexto.
Tive que perceber isto para
compreender as razões pelas quais falharam e continuarão a falhar todas as
minhas tentativas de eliminação de um certo afeto que eu já não quero carregar.
Se o processo não tem em vista a
destruição do objeto mas antes a destruição do sentimento está mais próximo do
suicídio do que homicídio. Eu concebo já aqui, sem pensar muito, três ou quatro
situações que me levariam ao homicídio. Não concebo nenhuma que me levasse ao
suicídio.
Se eu fosse apenas racional, era
nesta altura que desistiria de me livrar do sentimento que me atormenta e me
renderia a uma existência de sofrimento.
Mas além de racional eu sou
pragmática.
A mesma lógica que revela a minha
incapacidade de destruir o sentimento põe a nu a irrelevância do objeto.
Ora, se o objeto só interessa
enquanto fundamento do afeto, pode ser substituído em qualquer altura porque o
cérebro deixa-se enganar por um bom sucedâneo.
E foi assim que percebi que
comprar um cão é mais eficaz do que continuar a ler a Moby Dick.
Isto tudo para avisar que, a
partir do dia 20 de dezembro, este blogue atingirá mínimos históricos de
qualidade. Pior que um babyblog só me ocorre mesmo um doggyblog.
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