Enfiar a
mente num espartilho e mantê-la, assim, controlada e quieta, não é tarefa para
meninos. Uma dieta emocional à base de doze horas diárias de árduo trabalho intelectual
e mais três de todas as Jane Austen deste mundo, em versão áudio-livro e em
inglês, para tornar tudo mais insuportável, não foi suficiente para disciplinar
a minha mente e impedi-la de andar por aí a vaguear por becos perigosos e mal
frequentados. Convencida que o problema não estava no remédio e antes na dosagem,
intensifiquei o tratamento para cinco horas diárias da Moby Dick, do Melville. Deve
dormir-se o menos possível para não dar tréguas a uma mente insubmissa e pouco
escrupulosa que se aproveita da redução da vigilância para estabelecer contacto
com o coração.
Entretanto,
dei-me conta que além de me ter caído metade do cabelo, adquiri uma estranha
expressão de louca. Penso que são efeitos secundários do tratamento. Mas também
é possível que me esteja a transformar num fantasma.
Parece-me
o justo destino de quem entregou a alma e cortou relações com o coração.
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