Numa sala com vista para uma rua chique
de Lisboa, os chacais sentam-se em cadeiras de falso cabedal preto e reúnem-se
em torno do meu coração. Um deles tira-o do interior de uma pasta de plástico e
pousa-o na mesa de vidro. Com cuidado. Para que não se suje a carpete cinzenta.
Depois pesam-no numa balança de pesar farinha. Anotam números incompreensíveis
e entreolham-se com ar grave. Há murmúrios de desaprovação. Escolhem um deles e
encarregam-no de o espremer. Pelo puro interesse científico em determinar
quantas gotas deita. Explicar-me-ão mais tarde.
Nunca nada foi tão reduzido à sua
objetiva realidade como o meu coração na mesa dos chacais.
Um montinho de carne crua e
ensanguentada.
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