Organizaram-me uma festa de
despedida no mundo que fica para lá do buraco da toca do coelho.
A pirotecnia, que por estes lados
está sempre dependente da vontade do São Pedro, chegou mais ou menos à hora marcada.
Quando cheguei eles já dançavam
todos ao som de uma música que fala de piratas e de medos que parece que vêm do
chão. Talvez por não ser daqui, não sei nada sobre isso. Os meus medos vêm
todos de dentro de mim própria.
Demasiado alcoolizada para
conseguir dançar em condições aquela dança de marinheiro, convenci-me que
viajava num convés de um navio a atravessar vagas gigantescas.
O chapeleiro louco encarregou-se
de me fornecer shots de uma beberragem de antiga criação piratística e de tal
forma forte que me deixou um ardor no peito que temo que se vá manter por
demasiado tempo. Mas também pode ser só uma úlcera.
Um caranguejo aproximou-se e
perguntou-me se não lamentava não possuir essa mágica faculdade de andar
para trás. Mas logo apareceu uma vaca sagrada que lhe explicou que fora do
wonderland andar para trás é assumido como uma limitação e não uma faculdade.
As baleias que me propus caçar
quando vim para esta terra apareceram no final da música para me mostrar a língua
e cuspir um repuxo malcriado que me molhou a cara e estragou a maquilhagem. Mas também posso ter chorado.
Lembrei-me que não cheguei a ler
a Mobby Dick. Era o meu principal projecto pessoal quando, em Setembro, aterrei
nesta ilha. Te-lo-ia lido inteirinho se não tivesse dado com a entrada do
wonderland e passado os meus tempos disponíveis entre as câmaras do mundo mágico,
disfarçada de Alice, a brincar com as forças subversivas do reino que planeiam
destituir a rainha de copas. Que por acaso também sou eu.
Acabei a noite a contar estrelas
e a dissecar constelações, com a cabeça deitada no colo do chapeleiro louco.
Apercebi-me, pela primeira vez, que a mística das criaturas do wonderland reside
no facto de serem, eles próprios, prisioneiros do seu mundo. A eles, o óleo de
baleia, azul, não lhes serve de password para o mundo dos homens.
Esse que é feio. Horrível. Medonho.
Aquele ao qual pertenço. Aquele ao qual tenho que voltar.
Aquele ao qual, na verdade, diz-me
o meu coração tolhido, já voltei.
então, e agora? burkina faso?
ResponderEliminarAgora, caríssimo noodles, cabe-me escolher entre o regresso ao alentejo mágico e uma linda cidade no sul litoral...
Eliminarwin-win.
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