Ontem à noite voltei a seguir a
vaca, deixei-me escorregar pela toca do coelho e sacando da poção mágica feita
de óleo de baleia, azul, caí no
wonderland a tempo da reunião das forças subversivas do reino. O chapeleiro
louco bateu com o martelo de encontro a uma mesa de casca de tartaruga, viva, e
mandou-nos calar a todos para dar início aos trabalhos.
Arranjei um bom lugar no chão ao
lado do fotógrafo rastafári que imediatamente me ameaçou com a sua máquina
fotográfica. Disse-me que tinha o poder de roubar as almas aos fotografados. Perguntei-lhe
se isso não fazia antes parte da mitologia indígena mas ele limitou-se a
explicar-me que tinha acabado de chegar da amazónia. Desafiei-o para que me
desse o seu best shot e quando me
elogiou a temeridade agradeci com uma vénia omitindo a circunstância de já não
ter alma apropriável.
É claro que a valentia é a pele
de quem já não tem corpo. Mas esta gente não sabe isso. E também desconhece os
meus antigos hábitos de funambulista. Perde-se em carácter o que se ganha em
equilíbrio.
O chapeleiro louco distribuiu-nos
sortes chinesas feitas de tarefas subversivas. Calhou-me a ingrata e impossível
missão de distrair a rainha de copas
enquanto esta corajosa gente leva a cabo um golpe de estado. O gato que ri
materializou-se a tempo de espreitar o meu papelinho e lançou no ar uma
gargalhada maligna.
A sigilosa reunião terminou com um
hino sobre brumas e o içar de uma bandeira que exibia uma ave com as asas
voltadas para baixo.
Fiquei tão satisfeita por ter
sido convidada para alguma coisa que me esqueci de lhes explicar que a rainha
de copas sou eu.
As rainhas, muito mais a de copas não precisam dizer que o são para serem obviamente reconhecidas. Esse, foi certamente o caso, que muito bem os indígenas fizeram por mostrar ignorar.
ResponderEliminarcaro Pirata, acho que algures a meio da história a rainha de copas foi a única deixou de se reconhecer a si própria e transformou-se em Alice. Mas também isso, todas as criaturas do wonderland terão percebido.
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