Passei muitas horas ao telemóvel. Fiz milhas e milhas de avião. Aprendi de cor dois aeroportos. Alterei o meu conceito de vento forte. Li como não lia desde antes de os 18 anos. Descobri que gueixa é uma subespécie da vaca. Comprei umas galochas. Reduzi a velocidade. Voltei a ter paciência para sonhar. Introduzi-lhes o conceito de prisão. Passei a dormir com a porta do quarto trancada. Viciei-me em pão pita e bolo lêvedo. Troquei com vantagem uma governanta alemã por uma tia adoptiva. Desisti de pintar. Fiz trilhos pedestres com chapéus urbanos. Alimentei um incontável número de patos. Engoli o pôr-do-sol sobre o mar nas tardes de sábado. E nas outras também. Curei-me do vício das compras. Melhorei as relações institucionais com a polícia. Vi os filmes que me faltava ver. Só consumo produtos lácteos regionais. Percebi que a solidão é orgânica e não geográfica. Entendi-os. Sei quantos bezerros tem o pasto da frente. Desesperei duas vezes. Cantei em plenos pulmões a música deles sem me lembrar que não “sou das ilhas de bruma”.
Já posso voltar para Lisboa?
Já posso voltar para Lisboa?
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