quinta-feira, 7 de abril de 2011


Com a mudança livrei-me dos gritos irritantes das gaivotas que entravam pela janela do meu antigo gabinete. O facto fez parte de uma lista manuscrita onde rabisquei as vantagens de ter sido obrigada a mudar de sítio. A lista fez parte de um processo de convencimento tão desesperado quanto ineficaz. Mas a primavera chegou à minha nova terra. E com ela as andorinhas. E a vantagem do silêncio foi rapidamente anulada pela azáfama destas criaturas esvoaçantes que afinal até são muito mais estúpidas do que aquilo que se pensa. Agora sou distraída pelas permanentes tentativas de suicídio de aves negras que se atiram em voo picado contra a janela fechada do meu novo gabinete. Além disso, quando não estão desmaiadas pela violência do embate contra os vidros, fazem barulho. Um barulho infinitamente mais irritante do que os mios das gaivotas. Um barulho que me faz sentir saudades dos dias em que imaginava várias formas de assassinar gaivotas e vivia confrontada com o problema de saber se, no que respeita ao acompanhamento enológico, gaivota deve ser tratada como carne ou como peixe. As andorinhas não me suscitam esse dilema. Suponho que o mais correcto será acompanhá-las com vinho tinto.

Sem comentários:

Enviar um comentário