já só conseguia sentar-se curvado para a frente, cotovelos nos joelhos e a cabeça entre as mãos. há meses.
era como estava quando ouviu do médico que não havia nada a fazer. do muito que já se havia feito. das várias combinações de calmantes. na altura era assim que se tratavam os deprimidos. só algum tempo depois se compreendeu que não precisavam de ser acalmados.
as sessões que duravam horas. o psicólogo. o psiquiatra. o dormir a valium.
“… a não ser que ela regresse para perto da família dela, dos lugares onde viveu em menina… saindo daqui, quem sabe…”
ele não precisou nem quis ouvir mais nada, saiu antes que o homem acabasse a frase com um “…pode não adiantar nada”. estava farto da falta de esperança.
ela trazia o rosto pequenino. cada vez mais pequenino. era só olhos. cabelo curto. pele cinzenta da súplica de não ver a luz do dia. 41 kgs. 2 filhos pequenos. uma vontade imensa de morrer.
meteu-a num avião cheia de instruções.
ele foi um mês depois, esperou o fim do ano lectivo da menina - que pensava que ia de férias, como das outras vezes. ria-se muito quando o pai lhe dizia que a mãe já tinha encontrado uma escola para ela.
chegaram numa manhã gelada. amassados e mal dormidos. a um aeroporto patético do tempo em que não se usava aquecimento. excesso de bagagem – uma pequena fortuna em taxa suplementar por transporte de 20 kgs de brinquedos.
a roupa mais quente que tinham deixava passar o Novembro inteiro até aos ossos.
no almoço cheio de perguntas e pedidos de relatos de factos exóticos olhavam-se os 4, com vontade de fugir.
uma agonia que se prolongou pela hora do chá adentro. era Domingo.
o apartamento que lhes compraram por procuração tinha mobília comprada por procuração. não estavam habituados às cabeceiras de cama com torneados. riram-se muito do conjunto de tapetes do quarto-de-banho que incluía a insólita peça que cobria a tampa da sanita.
uma dia chegou a casa e ela só chorava.
lembro-me de os ver na cozinha, ela bonita e ele aflito.
ela chorava muito porque estava constantemente a queimar a comida por não se habituar ao fogão de discos eléctricos. e tinha medo que o cilindro explodisse.
o meu pai abraçou a minha mãe e disse que ia correr tudo bem.
e correu.
era como estava quando ouviu do médico que não havia nada a fazer. do muito que já se havia feito. das várias combinações de calmantes. na altura era assim que se tratavam os deprimidos. só algum tempo depois se compreendeu que não precisavam de ser acalmados.
as sessões que duravam horas. o psicólogo. o psiquiatra. o dormir a valium.
“… a não ser que ela regresse para perto da família dela, dos lugares onde viveu em menina… saindo daqui, quem sabe…”
ele não precisou nem quis ouvir mais nada, saiu antes que o homem acabasse a frase com um “…pode não adiantar nada”. estava farto da falta de esperança.
ela trazia o rosto pequenino. cada vez mais pequenino. era só olhos. cabelo curto. pele cinzenta da súplica de não ver a luz do dia. 41 kgs. 2 filhos pequenos. uma vontade imensa de morrer.
meteu-a num avião cheia de instruções.
ele foi um mês depois, esperou o fim do ano lectivo da menina - que pensava que ia de férias, como das outras vezes. ria-se muito quando o pai lhe dizia que a mãe já tinha encontrado uma escola para ela.
chegaram numa manhã gelada. amassados e mal dormidos. a um aeroporto patético do tempo em que não se usava aquecimento. excesso de bagagem – uma pequena fortuna em taxa suplementar por transporte de 20 kgs de brinquedos.
a roupa mais quente que tinham deixava passar o Novembro inteiro até aos ossos.
no almoço cheio de perguntas e pedidos de relatos de factos exóticos olhavam-se os 4, com vontade de fugir.
uma agonia que se prolongou pela hora do chá adentro. era Domingo.
o apartamento que lhes compraram por procuração tinha mobília comprada por procuração. não estavam habituados às cabeceiras de cama com torneados. riram-se muito do conjunto de tapetes do quarto-de-banho que incluía a insólita peça que cobria a tampa da sanita.
uma dia chegou a casa e ela só chorava.
lembro-me de os ver na cozinha, ela bonita e ele aflito.
ela chorava muito porque estava constantemente a queimar a comida por não se habituar ao fogão de discos eléctricos. e tinha medo que o cilindro explodisse.
o meu pai abraçou a minha mãe e disse que ia correr tudo bem.
e correu.
que lindo...o amor que tu aprendeste.
ResponderEliminarlindo.
ResponderEliminarpenso que é origem da minha teimosia em acreditar que pode mesmo acontecer.