quarta-feira, 9 de março de 2011

maré de sizígia

não te esqueças. todas as noites.
tens que tornar a empurrar o barco de volta para a água.
e lutar contra esta lua nova que enche as vésperas de breu.
não te esqueças.
o barco tem que desaparecer no mar, longe da vista da praia, antes que venha o crescente.
cuida: bastará um ténue brilho para que se desenhe o carreiro de prata à superfície da água. é essa trilha de que o barco está à espera para voltar.

sente os pés descalços na areia gelada. movediça de engolir.
sente.

exausta. volta para cama.
já sabes que a próxima madrugada será igual.
até conseguires que o barco desapareça.

as mãos gretadas do sal. o rosto seco do vento.
o peito pesado do esforço.
para sempre.
para nada.

3 comentários:

  1. para tudo.

    porque tudo é perfeito, numa maré de sizígia. de argento, esse tal carreiro de que fala.

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  2. para nada o esforço, que não se pode mandar embora aquilo que é tudo.

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