há quem simplesmente não o possa manter intacto por toda a vida.
situação semelhante ao do que herda um palacete e nem para o travejamento do telhado tem. um tal imóvel carece de restauros, caríssimos. manutenção.
soalho.
ordem no jardim.
não se desiste do legado. escolhe-se viver só em parcelas que a cada meia dúzia de invernos se vão transferindo para os andares inferiores, diminuindo em área. o tempo cuida de ir degradando os salões. ecos que se vão fechando em quartos e salas que se trancam. chaves que se perdem. um par de incêndios que o descuido deixou arder.
chega-se aos baixos dos criados, onde se confina a três divisões, de entre as quais só uma é assoalhada. últimos alvéolos de um pulmão calcinado de fumo.
situação semelhante ao do que herda um palacete e nem para o travejamento do telhado tem. um tal imóvel carece de restauros, caríssimos. manutenção.
soalho.
ordem no jardim.
não se desiste do legado. escolhe-se viver só em parcelas que a cada meia dúzia de invernos se vão transferindo para os andares inferiores, diminuindo em área. o tempo cuida de ir degradando os salões. ecos que se vão fechando em quartos e salas que se trancam. chaves que se perdem. um par de incêndios que o descuido deixou arder.
chega-se aos baixos dos criados, onde se confina a três divisões, de entre as quais só uma é assoalhada. últimos alvéolos de um pulmão calcinado de fumo.
por papel de parede, recordações. por onde os seus olhos vagueiam nos dias. e nalgumas noites em claro.
a roupa de cama já não cheira a alfazema. já não há quem a coloque a corar.
ainda assim, sente-se em si. paixões domadas como velhos sabujos esquecidos dos dias de caça. dormitam aos seus pés.
ela entra, decadente. reconhece os cantos e senta-se à lareira. deixam-se ficar. estão em casa.
Corações decadentes...
ResponderEliminarA casa onde morou o meu, desfez-se quando tocaram à campainha e tentei abrir a porta...
Mas era um casebre insalubre e não um solar como o teu.
adoro-te.
ResponderEliminaro solar não é meu.
ResponderEliminargostava de o habitar.
acontece que só aceitam visitas.
- por onde andaste?
ResponderEliminar- por aí.
- já acreditas em mim?
- já. impressionante, nunca teres tido um filho.
- ia acabar numa assoalhada, não teria lugar para ele.
- mas, afinal, que merda de coração é esse?
- é como tu disseste um dia: o homem que, por não saber amar, não parava de o fazer.
- e amaste muito?
- viúvas e viúvas de sempre. mas ficaste-me, estupor. sabia que ias aparecer. eu já não tenho sangue para ti.
- óptimo. agora só tens coração, certo?
- que remédio…
- então aninha-te, que chegou o nosso tempo.
sobe a camisa e mostra as meias cinzentas, de lacinhos, uma amputada do enfeite.
– trouxe-as, just in case.
ele começou a chorar, como sempre chorou: desamparo de mãe. aflitivo. soluço. vómito.
ela deu-lhe a mão e sairam dali, no primeiro vôo para paris. ia-lhe mostrar as ruinas do que contou e as novidades que outros entretanto inventaram.
….
no avião, ele pensou: a ciência ajuda a circulação. és um velho tarado, tu.
Excelente blog, belíssima imagem, delicado texto. Encantadora, no seu conjunto de sensibilidade e força, esta edição. E também apreciei bastante a história aparecida no último comentário! :-) Acho que não entrava num blog há quase um ano. Olha, foi sorte! :-)
ResponderEliminar(Camuflagens)
@ Camuflagens
ResponderEliminar:)
tem razão. é curioso não entrar num blog há quase um ano, ter vindo dar a este e, justamente, ao "coração".
seja bem-vindo.