domingo, 13 de fevereiro de 2011

il gattopardo


dei-lhe o Sartre. simplesmente, dei-lhe. e todos os outros que ela pediu.
o medo de que ma descobrissem era tal que passei a assumir, em tudo, tudo diferente.

enquanto ela arranhava o soalho do corredor com os meus slingbacks cor de tabaco eu sofri de cãibras pelos quilómetros em que usei sabrinas de camurça. ela dançou os meus boleros. e eu comprei música que não consigo ouvir até ao fim. tudo fingido. para que não ma descobrissem. ela arranjou-se com a minha maquilhagem e eu deixei-a usar tudo: as sombras escuras e o rímel espesso de que gosto. enquanto isso eu explicava, de cara lavada, alergias a águas muito calcárias. de tudo se foi apossando. os vestidos. até certa roupa interior. o jeito de olhar e aquela forma particular de sorrir. e de chorar. ela foi ficando com tudo. as gargalhadas. eu não me importei pois que era tudo doado de vontade livre. para não saberem que éramos uma só. até ganhei peso. ao ritmo que ela emagreceu. éramos uma e continuamos a ser. e só ela sabe que assim é.

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