Maria Alice tem cerca de um metro e meio, um corpo que faz lembrar um tronco de árvore, dentes de bulldog inglês e um cabelo indescritível que usa envolto numa fita que vai desde a testa até metade da cabeça. Para completar o já de si desfavorável cenário, é a feliz proprietária de uns olhos bovinos, ligeiramente estrábicos, a condizer com um permanente sorriso imbecil.
No preciso momento em que vos escrevo, Maria Alice está para ali.
Por razões que eu agora nem me quero lembrar, para não ser obrigada a esbofetear-me e estragar a maquilhagem, ela trabalha para mim. E despedi-la, pelas mesmas razões, está absolutamente fora de questão.
O problema de Maria Alice é que ela é uma daquelas pessoas que nunca se sabe bem o que estão a fazer. Só se consegue perceber que andam para ali.
E no caso dela, quando deixa de andar para ali parece que nem sequer cá esteve. O que, convenhamos, numa empregada doméstica, não é um fenómeno positivo.
Por exemplo: neste momento, Maria Alice passeia o ferro de engomar de um lado para o outro, enquanto tenta desbobinar as estórias da prima, ao mesmo tempo me procura convencer que o motivo pelo qual o forno não ficou bem limpo (não fui ver, mas já se advinha) está directamente relacionado com qualquer coisa que eu fiz de errado.
Quando Maria Alice desistir do ferro de engomar, as minhas roupas vão continuar no estado em que estavam antes e Maria Alice vai-me tentar convencer que a culpa é minha porque usei uma temperatura inadequada na máquina de lavar.
E quando, por fim, Maria Alice começar a ver-se ao espelho nos meus vidros, enquanto faz de conta que os lava, a culpa pelo facto de continuarem sujos quando ela terminar, também será minha que não comprei o produto certo.
Um qualquer de que ela não sabe dizer o nome. Porque, estranhamente, Maria Alice, ao contrário de todas as outras empregadas domésticas que tive na vida, não deve assistir a telenovelas nem à publicidade a produtos de limpeza que as acompanham. Por esse motivo, Maria Alice não consegue soletrar fairy ou skip, substituindo as designações das marcas por “detergente verde para a loiça” e “coiso azul para a roupa”. E se eu tiver paciência para me fazer de desentendida e insistir um pouco, virá um “fério” ou um “esquipo”. No mundo de Maria Alice, palavra que é palavra, acaba sempre em o.
Ao mesmo tempo que me ocupo da missão desistente e cobarde de responder por concordantes monossílabos beatíficos, cerrando os dentes para não os ranger, ocorre-me um pensamento profundo:
Maria Alice não pode ser uma mera empregada doméstica a quem eu pago oito euros à hora para ser irritada. É uma agente infiltrada pelo sistema para, num contínuo processo de fiscalização ao meu estado mental, despistar todos os níveis de psicopatologia.
No preciso momento em que vos escrevo, Maria Alice está para ali.
Por razões que eu agora nem me quero lembrar, para não ser obrigada a esbofetear-me e estragar a maquilhagem, ela trabalha para mim. E despedi-la, pelas mesmas razões, está absolutamente fora de questão.
O problema de Maria Alice é que ela é uma daquelas pessoas que nunca se sabe bem o que estão a fazer. Só se consegue perceber que andam para ali.
E no caso dela, quando deixa de andar para ali parece que nem sequer cá esteve. O que, convenhamos, numa empregada doméstica, não é um fenómeno positivo.
Por exemplo: neste momento, Maria Alice passeia o ferro de engomar de um lado para o outro, enquanto tenta desbobinar as estórias da prima, ao mesmo tempo me procura convencer que o motivo pelo qual o forno não ficou bem limpo (não fui ver, mas já se advinha) está directamente relacionado com qualquer coisa que eu fiz de errado.
Quando Maria Alice desistir do ferro de engomar, as minhas roupas vão continuar no estado em que estavam antes e Maria Alice vai-me tentar convencer que a culpa é minha porque usei uma temperatura inadequada na máquina de lavar.
E quando, por fim, Maria Alice começar a ver-se ao espelho nos meus vidros, enquanto faz de conta que os lava, a culpa pelo facto de continuarem sujos quando ela terminar, também será minha que não comprei o produto certo.
Um qualquer de que ela não sabe dizer o nome. Porque, estranhamente, Maria Alice, ao contrário de todas as outras empregadas domésticas que tive na vida, não deve assistir a telenovelas nem à publicidade a produtos de limpeza que as acompanham. Por esse motivo, Maria Alice não consegue soletrar fairy ou skip, substituindo as designações das marcas por “detergente verde para a loiça” e “coiso azul para a roupa”. E se eu tiver paciência para me fazer de desentendida e insistir um pouco, virá um “fério” ou um “esquipo”. No mundo de Maria Alice, palavra que é palavra, acaba sempre em o.
Ao mesmo tempo que me ocupo da missão desistente e cobarde de responder por concordantes monossílabos beatíficos, cerrando os dentes para não os ranger, ocorre-me um pensamento profundo:
Maria Alice não pode ser uma mera empregada doméstica a quem eu pago oito euros à hora para ser irritada. É uma agente infiltrada pelo sistema para, num contínuo processo de fiscalização ao meu estado mental, despistar todos os níveis de psicopatologia.
I. Então a fase psicotécnica não dura apenas uma manhã...
ResponderEliminarII. Como dizia a sábia da minha avó: "Vá uma pessoa depender deste gado..."
III. Mal com elas, pior sem elas...
IV. Vê o filme "Io Sono L'Amore" para veres o que são criados de verdade... mas esses não ganham 8 euros à hora :(
A minha Maria Alice é que precisa ver o filme.
ResponderEliminarJá tenho arrepios só de pensar que quinta-feira vou ter outra dose.