sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

por vezes já não parece mas foi o ano em que a vida começou a tirar-me coisas - e ainda ando por aí a rir, vá-se lá saber a razão

tornei-me mais paciente.
aprimorei, com dedicação de ourives, o meu olhar desatento.
ganhei a capacidade de não ouvir quando não me interessa.
e de trabalhar no meio de uma trincheira em pleno assalto.

descobri a alma Mário e Maria Helena [esta também com dois corpos, Cuca]. tornamo-nos amigos.
amigos de eu ir lá a casa beber chá e perdermo-nos em conversas de roda livre.
e, por vezes, ficamos a saltar em cima da cama.

gastei muito dinheiro em lingerie. é vício antigo.

assumi dois pseudónimos.

comprei um colar de contas vidradas.
conheci uma biblioteca ensolarada.

esquivei-me a um par de facadas nas costas.
e se não foi assim, pelo menos não sangrei que se notasse. que eu notasse.

arrastei o homicídio dela, como já o tinha feito por vários anos antes e hei-de fazer por mais um. um de cada vez.

obrigada por me teres feito maior
na consideração da generalidade das desgraças que se tornaram, na generalidade, patéticas.


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