Giselle, camponesa e pobre, tinha uma alma ignorante de sofrimento quando se apaixonou por Loys, que afinal era Albrecht, disfarçado e entediado duque da Silésia. No final do primeiro acto Giselle descobre que foi enganada por Albrecht e morre de desgosto.
O segundo acto decorre no cemitério, em frente da campa de Giselle, onde um Albrecht arrependido a vai chorar e tem um encontro com as wilis, fantasmas das noivas que morrem antes do casamento e que, por vingança, decidem matar Albrecht. No final do segundo acto Giselle impede a morte de Albrecht e entrega-lhe o seu perdão.
Giselle morre. Albrecht vive.
O segundo acto decorre no cemitério, em frente da campa de Giselle, onde um Albrecht arrependido a vai chorar e tem um encontro com as wilis, fantasmas das noivas que morrem antes do casamento e que, por vingança, decidem matar Albrecht. No final do segundo acto Giselle impede a morte de Albrecht e entrega-lhe o seu perdão.
Giselle morre. Albrecht vive.
A última sessão de Giselle aconteceu dois dias antes do Natal. As coincidências, a falta de imaginação e o humor negro do destino, acabaram por nos fazer sentar aos dois, lado a lado, como uma mancha numa plateia de felicidade e paz natalícia embrulhada em visons e iluminada por brilhantes, muito depois de o nosso próprio dueto artístico de entretenimento doméstico se ter desfeito em palco.
Tornou-se evidente que tínhamos uma mensagem um para o outro que esperávamos que passasse através dos nossos corpos rígidos, concentrados na tarefa de não se tocarem e dos nossos olhares vazios, absortos na insistência em nada reflectirem.
Não sei se ele percebeu que eu lhe queria explicar que nos assassinou e nos condenou a viver como fantasmas aprisionados entre uma vida que se perdeu e uma outra que não há maneira de se saber ganhar.
Sei que, apesar de ter percebido bem a mensagem dele, talvez por não dispor da inocência bucólica de Giselle, não fui capaz de lhe perdoar.
No final do último acto, quando as nossas mãos incidentalmente se tocaram, os nossos olhares reflectiram um final próprio.
Albrecht e Giselle estavam ambos mortos.
O Presépio somos nós
ResponderEliminarÉ dentro de nós que Jesus nasce
Dentro deste gestos que em igual medida
a esperança e a sombra revestem
Dentro das nossas palavras e do seu tráfego sonâmbulo
Dentro do riso e da hesitação
Dentro do dom e da demora
Dentro do redemoinho e da prece
Dentro daquilo que não soubemos ou ainda não tentamos
O Presépio somos nós
É dentro de nós que Jesus nasce
Dentro de cada idade e estação
Dentro de cada encontro e de cada perda
Dentro do que cresce e do que se derruba
Dentro da pedra e do voo
Dentro do que em nós atravessa a água ou atravessa o fogo
Dentro da viagem e do caminho que sem saída parece
O Presépio somos nós
É dentro de nós que Jesus nasce
Dentro da alegria e da nudez do tempo
Dentro do calor da casa e do relento imprevisto
Dentro do declive e da planura
Dentro da lâmpada e do grito
Dentro da sede e da fonte
Dentro do agora e dentro do eterno
Tolentino Mendonça
Um Natal tranquilo
Maria Helena