sábado, 13 de novembro de 2010

Parábolas mais que perfeitas


Kafka emendado
Diante do Amor está um porteiro. Um homem aparece e pede para entrar. O porteiro não autoriza. O homem pergunta se pode entrar mais tarde. O porteiro diz que talvez. O homem espreita pela porta aberta. O porteiro desafia o homem a tentar entrar, avisando que depois dele estão outros guardas, cada vez mais fortes. O homem desiste. O porteiro oferece uma banqueta ao homem, para que ele espere sentado. Espera anos e anos. Tenta súplicas e subornos. O porteiro aceita os subornos, «para que não penses que houve alguma coisa que não tentaste». Mas não deixa o homem entrar. No fim da vida, o moribundo faz ao porteiro uma pergunta que nunca fez: «Se todos aspiram ao Amor, porque é que durante todos estes anos mais ninguém tentou entrar?». O porteiro responde: «Aqui não podia entrar mais ninguém, porque esta porta era só para ti. E agora vou fechá-la».
Pedro Mexia, in Estado Civil, aqui

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