sábado, 21 de agosto de 2010

A manhã não vai ser de praia


O nevoeiro está cerrado. Voltaram as noites normais. Sem os abafos subsaarianos tão a despropósito.
A humidade passa ligeira e oblíqua no halo da iluminação pública que me calhou em frente a casa. A temperatura é própria a criaturas que gostam de dormir sem desidratar por todos e cada um dos poros do seu corpo.

Lembra-me a estola de vison. Sim, vison, esses bichos que são capturados apenas para que se lhes arranquem o couro e dos quais só se aproveitam os lombos, como costuma realçar a turba de esquerda. A mesma que não gosta da festa brava. Apenas se aproveita o lombo do animal porque as patinhas ficam danificadas nas armadilhas, como é óbvio.

E penso na manta que tenho que comprar para este Inverno. Quero uma nova porque a que a minha mãe furtou à British Airways fica cá em casa.
Caxemira; em cinza-chumbo ou azul-petróleo. Adoro essas cores impossíveis e sei que vou andar doida com os exemplares vermelhos e amarelos que me vão tentar impingir dizendo que são cores quentes próprias e normais para mantas. Mas não para mim.
A manta é totalmente figurativa, sei-o. É para aconchegar a solidão bem encaixada no meu colo. Se não encontrar a que quero, embrulho-a no vison mesmo.

Soube há pouco que ia ser raptada para o Alto Douro muito em breve. Bom sítio para os meus passeios dementes.

Voltaram as noites normais.
As noites normais.

Apetece escrever à mesa da sala de jantar. Que era dos meus avós. Com um candeeiro do lado esquerdo e de janelas abertas sem recear as apunhaladas dos mosquitos. A beber um chá quente acompanhado de biscoitos torrados feitos em quatro moldes diferentes da Hello Kitty.

De soslaio e envergonhada por estas linhas, fito o Lobo A. que estou quase a acabar de lamber.
Esse sim, dono da mestria do desencanto.

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