Nem sempre se deve desconfiar das pessoas
graves, aquelas que caminham com o pescoço inclinado para baixo,
os olhos delas a tocar pela primeira vez o caminho que os pés confirmarão
depois.
Às vezes elas vêem o céu do outro lado do caminho que é o que lhes fica por baixo
dos pés e por isso do outro lado do mundo.
O outro lado do mundo das pessoas graves parece portanto um sítio longe dos pés e
mais longe ainda das mãos
que também caem nos dias em que o ar pode ser mais pesado e os ossos
se enchem de uma substância morna que não se sabe bem o que é.
Na gravidade dos pés e da cabeça, e também dos olhos, com que nos são alheias
quando as olhamos de frente rumo ao lado útil do caminho que escolhemos, essas
pessoas arrastam uma nuvem prateada que a cada passo larga uma imagem daquilo
que foram ou das pessoas que amaram.
Essas imagens podem desaparecer para sempre se forem pisadas quando caem no
chão. A gravidade dos pés e da cabeça, e também dos olhos, destas pessoas, é, por
isso, uma subtil forma de cuidado.
Rui Costa, in "A Nuvem Prateada das Pessoas Graves"
Se este poema usasse roupa, vestia uma T-shirt preta com letras brancas a dizer o seguinte: "Eu sobrevivi a um trabalho de post edição da Estrelita"!
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ResponderEliminarAndei a rir de ti mas apesar dos meus melhores cuidados eu própria o tinha editado mal.
ResponderEliminarEspero que ninguem tenha visto a linda coisa que andámos a fazer ao poema do Rui.